sábado, 2 de agosto de 2014

10ª Postagem: Aqueles que não tem vida, mas podem evoluir

   Em nossa última postagem do blog, vamos tratar sobre uma das características necessárias para caracterizar um ser como sendo ser vivo e que depende da existência de DNA ou RNA para que possa ocorrer. Ou ,pelo menos, essa era a tese defendida através da ideia do Neodarwinismo, permitindo a comprovação de que a vida é ainda mais complexa do que acreditamos ser, e indicando possíveis novas criações de teorias evolucionistas.
     A evolução, em um resumo simples e pequeno, representa uma ideia existente desde a teoria Darwinista de que os animais evoluem com o passar dos tempos através de um processo de seleção natural que escolhe os mais aptos a sobreviverem em um determinado ambiente e, por estarem melhores adaptados, conseguem procriar gerando mais descendentes. A ideia de mutação influenciando na evolução foi aplicada na teoria Neodarwinista e defende um acontecimento aleatório nos genes de um novo animal, permitindo que ele possua alguma característica diferente, às vezes benéfica para a sobrevivência, que poderá ser transmitida aos seus descendentes.
     Necessitamos de um enfoque na ideia de mutação, esta que se apresenta como uma variação aleatória no genoma dos organismos, normalmente causando uma alteração na sequência de nucleotídeos. De certa forma, podemos dizer que uma alteração no DNA de um organismo irá gerar uma mutação na característica correspondente àquela parte alterada. Temos o exemplo da anemia falciforme, em que a alteração de um par genético do cromossomo 11 leva a alteração na produção de um único nucleotídeo, ocorrendo a alteração de apenas um aminoácido; mas essa alteração pode causar a morte do indivíduo.
     Nesse contexto, percebemos que para que ocorra mutações e, por conseguinte, evolução, é necessária a existência de ácidos nucleicos. No entanto, como já foi falado anteriormente, os príons apresentam-se apenas como proteínas, não sendo biologicamente possível possuírem DNA ou RNA, já que as proteínas são produtos formados a partir de DNA e RNA.
    No entanto, ao tratarmos de príons devemos lembrar que representam um campo ainda desconhecido para a medicina. Pesquisas do Instituto de Pesquisas Scripps foram divulgadas recentemente mostrando a capacidade dos príons de sofrerem mutações e passarem pela seleção natural.
    As pesquisas demonstram que o fator responsável é o dobramento de proteínas(vale lembrar que esse fator também é o percebido para saber se um príon está saudável ou não). No caso, quando os príons infectantes causam transformações em príons saudáveis ou, até mesmo, quando sofrem replicação, ele podem criar novas variantes, mesmo que em baixo nível inicialmente. Quando esses príons são passados para um novo hospedeiro, a seleção natural é encarregada de "selecionar" as proteínas mais agressivas e virulentas.
    Essa característica demonstra a capacidade dos príons de adaptarem-se as drogas criadas no combate de doenças priônicas e também explica o surgimento de algumas doenças priônicas, já que as primeiras encontradas foram a Scrapie na Europa e o Kuru na África, todas as outras mostram-se como variações dessas doenças.
    Como os príons infectantes apresentam resistência aos fármacos, uma tese no uso de drogas que tenham objetivo nos príons saudáveis foi criada. De acordo com a tese, o objetivo não seria mais destruir a existência de proteínas agressivas, mas evitar que elas se tornem agressivas. Pesquisas indicam que, finalmente, a humanidade está caminhando positivamente para a criação de um tratamento na questão esquecida por muitos, a questão príon.

terça-feira, 29 de julho de 2014

9ª Postagem: Perguntas e respostas sobre príons

Nessa postagem, aproveitaremos que já possuímos um bom embasamento sobre o tema príons e iremos responder as perguntas de alguns internautas feitas para o blog. Dessa forma, poderemos auxiliar na construção de novos conhecimentos e facilitar ainda mais o conhecimento desse assunto.

1) Já entendemos como o príon consegue proteger-se dos lisossomos de uma célula, mas como o príon consegue proteger-se dos anticorpos presentes em nosso corpo?
Como já vimos, os príons não sofrem reações com as proteases presentes nos lisossomos de uma célula e, devido à isso, os lisossomos acabam rompendo-se e liberando tais enzimas no meio intracelular, destruindo a célula. Dessa forma, o príon infectado será liberado para o meio extracelular, permitindo a contaminação de outras células. O corpo utiliza anticorpos para a proteção contra agentes invasores( no caso, os príons), tais anticorpos são proteínas produzidas pelos linfócitos B muito específicas capazes de inativar e eliminar o antígeno. Após a inativação, são produzidas células de memória para caso o antígeno reapareça posteriormente no corpo; dessa forma, poder-se-á ter uma resposta mais efetiva e rápida(resposta imune secundária).
O quadro a seguir traz um resumo completo sobre a resposta imunitária do nosso corpo
No entanto, no caso dos príons, isso muda. Pesquisas feitas por Adriano Aguzzi, professor em neuropatologia na Universidade de Zurich e no Hospital Universitário de Zurich, publicadas na revista científica Nature demonstraram que o corpo dos príons pode ser dividido em duas partes: uma área predominantemente globular que corresponde ao príon em si e uma longa "cauda". Em casos de príons saudáveis, essa cauda é importante para a manutenção funcional de células nervosas; já no caso de príons infectantes, essa cauda é utilizada para destruir os anticorpos no momento em que esses entram em contato com a parte globular. Testes foram feitos com diferentes anticorpos, no entanto o resultado foi o mesmo. Dessa forma, já sabemos agora o motivo de nosso corpo não ter defesas contra príons infectantes, assim temos uma noção de que caminho seguir para a criação de tratamentos contra doenças priônicas.

2) Existe a possibilidade de alguém nascer sem príons?
Até o momento atual não foram registrados nenhum casos de pessoas que nasceram sem o gene capaz de produzir príons em nosso corpo. Na verdade, essa realidade é quase impossível de ser imaginada, pois os príons possuem suas funções em nosso corpo. Desde a formação de memórias a longo prazo, até o controle da apoptose e da diferenciação neuronal, os príons possuem diversas funções(grande parte delas neuroprotetoras). A realidade é que as funções dos príons em nosso corpo são tão essenciais que a evolução não permitiu que somente uma proteína de 209 aminoácidos as fizessem. Ou seja, todas essas funções são desempenhadas por príons e outras substâncias em nosso corpo, funções estas que permitem estarmos vivos.

3)Mesmo com todo o conhecimento científico existente no mundo, ainda não foi possível encontrar uma maneira de evitar o poder infectante de um príon?
Atualmente, não podemos dizer isso. No entanto, existem muitas pesquisas sendo feitas que trilham por esse caminho, procurando uma forma de tratamento para doenças priônicas.
Entre essas pesquisas, existe um grupo de pesquisadores em Zurich que teve resultados satisfatórios ao testarem polímeros conjudados luminescentes(LCP) em áreas dos cérebros de ratos com príons infectantes, o resultado foi uma queda drastica nesse número de príons, bem como em sua toxicidade e infectabilidade. Isso, pois as LCP conseguem impedir a replicação do príon infectante, evitando assim que o contágio prolifere-se( importante principalmente por estarmos tratando do sistema nervoso, tanto por sua importância quanto pela facilidade de contaminação nesse sistema). No entanto, é importante lembrar que as pesquisas ainda estão em suas primeiras fases, sendo algo que demorará muito até chegar em seres humanos.

4) O Brasil possui alguma participação nas pesquisas de príons?
Felizmente, sim. Possuimos destaque internacional graças ao trabalho realizado pela farmacêutica Vilma R. Martins, do Intituto Ludwig  de Pesquisa em Câncer em São Paulo. A pesquisadora conseguiu revelar a existência de um receptor de príons na superfície de neurônios, explicando o até então desconhecido processo de internalização dos príons para as células e para os lisossomos, processo este que possibilita um príon infectante alterar um saudável. Seu trabalho já foi utilizado nesse blog como fonte de pesquisas e, atualmente, está realizando trabalhos para descobrir mais funções dos príons em nosso organismo e auxiliar a fortalecer o sistema de vigilância sentinela de doenças priônicas no Brasil.

Fonte:
http://www.sciencedaily.com/releases/2013/07/130731133117.htm
http://www.revistapesquisamedica.com.br/portal/textos.asp?codigo=11126
http://www.sciencedaily.com/releases/2012/04/120424095704.htm

terça-feira, 22 de julho de 2014

8ª Postagem: Scrapie, o primeiro vestígio de príons

   Nessa postagem, daremos ênfase à uma doença priônica que comete animais caprinos e, principalmente, ovinos. É importante ressaltar que esse foi o primeiro indício da existência de príons, até então totalmente desconhecidos, e, por isso, foram dados diversas explicações para essa enfermidade.
   O histórico do scrapie inicia-se no ano e 1954, quando uma descrição detalhada da enfermidade que acometia  gado ovino na Islândia deu origem ao termo "virose lenta", pois acreditava-se que o causador da doença era um vírus , no entanto com a característica de longo tempo de incubação. Ressalta-se a semelhança dos príons com vírus já realizadas nesse blog, dando embasamento à explicação.
   Eis que se iniciam as pesquisas relacionadas à príons através de pesquisas feitas por vários pesquisadores, entre eles Prussiner(rever a primeira postagem que detalha tais pesquisas e conta a decoberta do scrapie, pois esta ocorreu concomitantemente à dos príons, já que foi dele que inciaram-se as pesquisas). A descoberta das características físico-químicas do scrapie permitiram a descoberta da doença em casos passados(desde meados do século XVIII) que recebiam explicações diferentes na tentativa de, realmente, dar uma explicação aos casos. Perecebe-se que doenças priônicas acompanham a história da humanidade a mais tempo do que pensava-se, o que faltava era o melhor entendimento sobre elas, mesmo que ainda não completo.
   Os animais que sofrem de scrapie iniciam com alterações comportamentais e dificuldade de engolir alimentos e evolui para a descoordenação causada pela ataxia cerebelar( decomposição irregular de ajustes normalmente controlados pelo cerebelo e suas conexões, tal como a postura.). Isso, devido à degradação causada pelos príons, principalmente na região talâmica e cerebelar. Tal doença pode evoluir para duas formas: a forma pruriginosa e a forma nervosa, de acordo com a predominância de sinais sensitivos ou motores Dentre os principais sinais, temos: prurido, hiperexcitabilidade, ranger dos dentes e uma evolução para paralisia, tremores, convulsões e morte.
   A doença tem um período de incubação de 3 a 5 anos, por isso caracterizada como lenta, e causa a mortalidade em todos os casos encontrados, sem que haja uma cura.
   A transmissão dos príons infectantes ocorre a transmissão materna ou, também conhecida, transmissão vertical. Ainda nesse tipo de transmissão, ela pode ocasionar na infecção através do contato com placenta contaminada ou fluidos contaminados,sendo esta a principal forma. A via oral também é uma possibilidade de transmissão da doença, todas elas sendo necessária a entrada de um animal infectado para que possa ocorrer, já que não foram registrados casos de transmissão pela genética.
   É importante ressaltar que, mesmo que não haja transmissão genética da doença, certos alelos podem apresentar maior resistência aos sintomas do scrapie, mas não à doença em si. Dessa forma, o tempo de incubação é maior e o animal pode sobreviver por mais tempo. Tal diferença genética têm sua separação nas raças, pois somente algumas raças de ovinos apresentaram essa diferenciação genética.
   O diagnóstico ocorre através da coleta de tonsilas, tecidos linfóides da terceira pálpebra e na prega ano-retal(vale ressaltar que a atuação dos príons é maior nas áreas do sistema nervoso e sistema imunológico) para a técnica da imunoistoquímica. Porém, esse diagnóstico de detecção de príon não é totalmente confiável, somente a autópsia do tecido nervoso trará um resultado pleno, mas só pode ocorrer após a morte do animal.
   A preocupação da transmissão da doença e a falta de vacinas ou tratamentos faz com que haja morte do animal pelos seus criadores no momento em que existe suspeita da doença(assim como no Ma da Vaca Louca). A Austrália e a nova Zelândia, por exemplo, utilizam política de importação, quarentena e descartes rigorosos, sendo consideradas áreas livres. Já o Brasil apresentou seu primeiro caso em 2003 em um animal descendente de um importado dos Estados Unidos.

Fonte:
http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/Aniamal/programa%20nacional%20dos%20herbivoros/SCRAPIE.pdf
http://www.infoescola.com/medicina-veterinaria/scrapie/
http://www.scielo.br/pdf/anp/v49n2/01.pdf
http://www.sheepembryo.com.br/files/artigos/54.pdf

sábado, 12 de julho de 2014

7ª Postagem: Um em um milhão

Um em um milhão. Essa é a probabilidade mundial de uma pessoa ter, futuramente, a doença conhecida como Creutzfeldt-Jakob. As chances são pequenas, fato a favor da população humana, mas a doença é tão severa, e por ser uma doença priônica, também é fatal, que o melhor seria uma taxa de vítimas bem menor. Concomitantemente, o que impede o aumento dessa taxa? Esses são alguns dos problemas de doenças priônicas que serão discutidos nessa postagem.
Os primeiros neurologistas a descreverem a doença foram os alemães Hans Gerhard Creutzfeldt e Alfons maria Jakob.  Ambos enfrentavam casos clínicos registrados com crises convulsivas e distúrbios de comportamento, além de espasticidades e fenômenos mioclônicos( contração involuntária de músculos). Estudos anátomo-patológicos evidenciavam lesões na camada piramidal do lobo frontal e da região central do do encéfalo, junto ao comprometimento de regiões cinzentas do tálamo, núcleo denteado do cerebelo e susbtância cinzenta da medula espinhal. As análises indicavam atrofia cerebral, com degeneração e desaparecimento de células ganglionares e discretos focos de proliferação glial com degeneração das neurofibrilas. No entanto, não fora identificado fatores etiológicos exógenos ou outras possíveis causas, rotulando os casos apenas como pseudoesclerose espástica.
A doença caracteriza sua forma de transmissão como variada. A forma exata de aquisição da DCJ ainda é desconhecida, podendo ocorrer pelos cinco mecanismos: na forma denominada esporádica, não existe uma fonte infecciosa conhecida, nem evidência da doença na história familiar do paciente. Essa forma é responsável por aproximadamente 85% dos casos de DCJ; aproximadamente 10% a 15% dos casos de DCJ são hereditários, fruto de uma mutação no gene que codifica a produção da proteína priônica; outra forma bastante rara é a iatrogênica, como conseqüência de transplantes (dura-máter, córnea) ou através do uso de instrumentos neuro-cirúrgicos ou eletrodos intracerebrais contaminados; tem sido aceito que a ingestão de carne de gado portador da doença da vaca louca seja um fator de risco para o desenvolvimento da nova variante da DCJ (vDCJ). Ela atinge uma faixa etária mais jovem do que a atingida pela DCJ, acometendo pessoas entre 16 a 48 anos de idade; o primeiro caso mundial de possível transmissão 
sangüínea da nova variante da vDCJ foi divulgado recentemente pelo Ministério da Saúde da Grã-Bretanha.
Vale ressaltar que 85% como forma esporádica indica um ainda existente risco das taxas de vítimas com a doença aumentarem sem motivo aparente, fato abordado no ínicio da postagem. Dessa maneira, a preocupação com o DCJ é constante.
As manifestações clínicas dependem do mecanismo de transmssão e das características individuais, mas a doença de Creutzfeldt-Jakob costuma se caracterizar por demência rapidamente progressiva, com perda de memória, confusão mental, visão alterada, falta de coordenação motora, tremores, distúrbio na marcha, rigide na postura e contrações musculares involuntárias- as mioclonas, causadores do "riso do diabo" causado pela contração involuntária dos músculos da face que fazem a vítima sorrir sem parar. Nos estágios finais, os portadores não conseguem se mexer.
O diagnóstico depende de avaliação clinica e da realização de exames neurológicos diversos, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética do enéfalo, o eletroencefalograma, que registra a atividade elétrica cerebral e a análide do líquido encefalorraquidiano(líquor). Neste último, pode-se pesquisar uma protéina, denomidada 14-3-3, cuja presença é bastante indicativa do DCJ.
No entanto, a forma com maior chance de certeza seria uma biópsia do cérebro. Mesmo que essa seja a forma com maior garantia de descobrir-se a causa de uma doença, esse teste não é indicado no Brasil pelo príons ser uma partícula altamente infectante.
Um importante fato na DCJ é a sua nova variante. Basciamente, a DCJ é uma doença que ocorre em pessoas com idades mais avançadas, 50 ano em média. No entanto, surgiram casos de DCJ em vítimas cada vez mas juvenis, como 20 anos. Essa nova variante é adquirida através da transmissão de príons adquiridos pelo consumo de carnes bovinas de um animal acometido pelo Mal da Vaca Louca, De fato, pode-se dizer que a DCJ é uma variante do mal da Vaca Louca em seres humanos.

Para maiores informações, um vídeo foi disponibilizado nessa postagem retratando a vida de uma pessoa com DCJ em quatro etapas:




Também pode ser lido uma observação e estudo de um caso de DCJ no link a seguir: http://www.scielo.br/pdf/anp/v45n1/07.pdf

Fonte:
http://www.scielo.br/pdf/anp/v29n1/11.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Doen%C3%A7a_de_Creutzfeldt-Jakob
https://www.youtube.com/watch?v=4cfcAk5J_jU
http://www.fleury.com.br/revista/dicionarios/doencas/Pages/doenca-de-creutzfeldt-jakob.aspx

segunda-feira, 7 de julho de 2014

6ª Postagem: Ao morrer, você preferia ser comido por parentes do que por vermes?

O vídeo acima serve como base para a nossa proxima postagem: a doença Kuru. Uma doença que ganhou destaque pela dificuldade em ser infectado, já que existe somente em algumas tribos na Nova Guiné, quanto por ser a primeira doença priônica descoberta a afetar humanos.
Em 1961, um jovem pesquisador e médico australiano chamado Michael Alpers iniciou uma busca com um grupo de cientistas australianos a uma doença rara que acometia nativos das altas terras a Papua Nova Guiné. Conhecida como Kuru, que significa tremer na língua dos nativos, acometia cerca de 200 por ano tendo como principais sintomas dores nas pernas, braços e cabeça, problemas de coordenação motora, dificuldade de deglutição e para caminhar. tremores e abalos musculares.
O primeiro motivo apontado pelos pesquisadores foi curioso e surgiu do desconhecimento aliado à perplexidade com aquele fenômeno, foi indicado a feitiçaria como causa.
Eis que abrimos um parêntese: Para nós da cultura Ocidental, a feitiçaria é vista como algo demoníaco. No entanto, para os povos de Papua Nova Guiné, a feitiçaria faz parte da cultura deles. Ainda hoje, acredita-se que a feitiçaria tinha um bom propósito, mas devido ao mal uso de alguns, ela foi associada à desgraças como doenças, catástrofes e mortes.
No entanto, por puro acaso, uma relação entre o kuru e o scrapie surgiu. Uma tese de que a doença neurodegenerativa que atacava os Fore( a tribo acometida pelo Kuru) pudesse ser transmitida assim como o scrapie foi feita. Após 10 anos de pesquisa, a tese foi comprovada.
Naquele momento, os Fore estavam desesperados, pois a doença estava fora de controle e os médicos parecia ser a unica alternativa. Isso, devido ao sucesso conquistado por Alpers em seu tratamento de úlceras com penicilina. Concomitantemente, o medo da doença originado pelo fato dos doentes caírem em risadas incontroláveis, fato explicado pelos Fore como a risada do demônio ao levar seus entes queridos, fez com que os pais de uma menina acometida pela doença permitissem a realização da autópsia, algo logicamente não visto com bons olhos por eles.
Mesmo com toda a dificuldade para realizar o procedimento, com a morte lenta e terrível da menina Kigea e seu pai fugindo para a selva por não aguentar mais aquela situação, o procedimento foi feita e amostras do cérebro dela foram enviadas para os Estados Unidos e células do técido nervoso foram inoculadas em chimpanzés. Estes que, após certo tempo, começaram a mostrar sinais da doença.
A descoberta mostrou que o Kuru era transmissível e, mais ainda, poderia transpor a barreira das espécies. Entretanto, a descoberta, unida com a chegada da antropóloga Shirley ao trabalho de Alpers, indicou ligação da doença com festas mortuárias.
Sim, os Fore eram praticantes do canibalismo e o faziam como demonstração final de amor aos entes queridos diante da agonia da morte. Eles acreditavam que seria desrespeitoso deixar o corpo de seus entes queridos para serem comidos por larvas ou vermes, mas que deveriam ser comidos por quem os amava.
Eis aí que temos outra descoberta, o porquê do Kuru atingir, majoritariamente, mulheres e jovens meninas. Elas eram as principais responsáveis por preparar o ritual canibalístico e saborearem o mesmo. O resultado final chegou de um depoimento de uma das nativas afirmando que o cérebro era uma das melhores partes. Assim, a morte de um familiar por Kuru resultava em seu ritual canibalístico e aumentava a incidência da doença.
Com a descoberta da causa da doença, logo foi descoberto seu agente infeccioso: os príons. No entanto, o kuru, assim como toda doença priônica, não possui tratamento ou cura. O método realizado por Alpers para diminuir a incidência da doença foi impedir que crianças participassem do ritual e, futuramente, os Fore pararam de comer os cérebros de parentes mortos.
Mas quanto à origem da doença? Relatos apontam como o Kuru sendo uma alteração da doença Creutizfledt-Jakob, em um único caos espontâneo. Para comprovar esse fato, analíses genéticas foram feitas e trouxeram uma descoberta ainda mais impressionante: a descoberta de um gene resistente ao Kuru, que impede o portador de adquirir a doença. Pesquisas provaram que, pela seleção natural, esse gene foi transmitido para parte da população.
Dessa forma, a doença foi desvendada e Alpers passou sua vida nesse projeto. No entanto, o medo das doenças priônicas ainda existe e a preocupação de novos casos de Kuru é constante, talvez um acidente genético possa fazer voltá-lo.
Em um contexto mais amplo, o Kuru pode ser associado ao Mal de Alzheimer e de Parkinson. Isso, pois todas essas doenças evolvem acumulo de proteinas, havendo uma proteína errada no corpo.
Para informações adicionais fora do campo de prions, acesse: http://fomedebioquimica.blogspot.com.br/

Fonte:
http://oaprendizverde.com.br/2013/11/24/kuru-a-doenca-dos-canibais/
http://www.conteudosaude.com.br/pt/site_extras_detalhes.asp?id_tb_extras=19149&id_parent_categorias=9237

domingo, 29 de junho de 2014

5ª Postagem: O Mal da Vaca Louca

Atualmente, sabe-se que os príons são os agentes causais de algumas doenças transmissíveis, hereditárias ou espontâneas. Além disso, os príons possuem a capacidade de multiplicar-se de forma incrivelmente rápida, simplesmente induzindo uma mudança na forma das proteínas normais, convertendo-as em proteínas patogênicas.
Entre essas doenças, trataremos essa semana da Encelopatia Espongiforme Bovina, popularmente conhecida como Mal da Vaca Louca. Possivelmente, essa seja a área de conhecimento da população em geral sobre os príons, devido à constante recorrência dessa doença nas mídias mundiais, principalmente durante os anos 80 e 90 quando tivemos um surto de tal doença em fazendas na Europa.
A origem da EEB ainda é incerta, sendo a explicação aceita atualmente é de que seja uma variante da doença scrapie(futuramente abordada nesse blog). Devido ao quase nenhum conhecimento dos fazendeiros sobre príons na época, foi-se utilizado ração contaminada com o PrPSc causador da scrapie em vacas saudáveis, fator que levou ao surgimento da doença.
Mas, naquela época, o agente causador ainda era incerto. Vale lembrar que a EEB surgiu pouco depois do ínicio das pesquisas sobre príons e sobre a doença Scrapie. Nesse contexto, forma criadas três hipotéses sobre o agente infectante:

  1. Um vírus não identificado ou uma partícula semelhante à um vírus: embora o tamanho do agente coincida, a resistência ao calor e às substâncias químicas, bem como a ausência de quaisquer ácidos nucleicos, o diferencia de quaisquer vírus conehcido
  2. Uma bactéria móvel(Spiroplasma): muitas das características das infecções por esse tipo de bactéria são similares ao EEB, mas não existem evidências diretas para vinculá-la ao EEB
  3. Uma proteína anormal(Príon): príons alterados são encontrados ao redor de todo o cérebro de vacas contaminadas por EEB, assim como em casos da doença Scrapie.A proteína é menor que um vírus e não é modificada por calor ou desinfetantes. Esta é a teoria mais aceita pela mídia, mas vai contra muitas teorias da biologia
Com o surgimento da EEB, é importante ressaltar que a doença pode ser transmitida pelos bovinos através da alimentação de ração contaminada, do contato de outros animais da mesma espécie com regiões que entraram em contato com a placenta infectada de um bovino após o parto, da ingestão de placenta contaminada do contato com instrumentos que entraram em contato com tecido nervoso doente. Também existe a propagação vertical, que ocorre através da passagem da mãe para a prole.

No entanto, como a EEB atua no bovino?
A atuação do príon contaminado é muito parecida entre seres humanos e bovinos. Após a absorção do príon para a corrente sanguínea e passagem para o tecido nervoso, ele entra em contato com um príon normal e alerta seu formato, destruindo sua função original. Esse processo ocorre continuamente, até que os lisossomos atuam no combate ao agente infeccioso. No entanto, os lisossomos não conseguem destruir príons infectados, que ficam armazenado nos lisossomos e passam a obstruir a célula nervosa, causando sua morte e consequente liberação dos príons infectados para outras células
No local onde as células morrem, ocorre o aparecimento de "buracos" parecidos com o de uma esponja, daí a existência do Epongiforme e da principal característica de uma doença priônica, fato que levou a consideração do agente infectante da EEB ser um príon.
As consequências da contaminação também são parecidas. Na maioria dos casos, tudo inicia com a apresentação de um comportamento estranho pelo ser vivo infectado. No caso de bovinos, a principal característica é o descontrole motor devido aos danos em regiões responsáveis pela motricidade, encontradas nas regiões ventrais da medula espinhal e e do encéfalo, fazendo com que o animal agir como se estivesse enlouquecido, daí o nome Vaca Louca. No caso dos seres humanos, a doença evolui para problemas psiquiátricos(paranoia), prolemas de coordenação muscular, dificultando a fala e o equilíbrio do doente, espasmos musculares, problemas nos sentidos, coma  e, por último, o óbito.
Deve-se ressaltar que, atualmente, não existem provas disponíveis para o diagnóstico da doença em animais vivos que sejam validadas internacionalmente. O diagnóstico ocorre no momento em que o animal exibe sintomas, nas quais exames de líquido céfalo-raquidiano, ressonância magnética e tomografia computadorizada vão resultar no diagnóstico final. Em casos extremos, ocorre a biópsia cerebral, considerada muito invasiva pela abertura do crânio.
A falta, também, de um tratamento leva os países a terem medidas sanitárias consistentes quanto à importação de carne bovina, principalmente em relação aos países europeus, onde tivemos o maior surto, que resultou na morte de inúmeros animais. No Brasil, por exemplo, é proibida o uso de proteína animal em rações, mas países como os Estados Unidos aplicam regras mais severas, como a proibição da importação de ruminantes vivos ou produtos feitos de ruminantes oriundos da Europa.

Fonte:
http://saude.hsw.uol.com.br/doenca-da-vaca-louca.htm
http://www.coladaweb.com/doencas/mal-da-vaca-louca
http://www.anvisa.gov.br/faqdinamica/index.asp?Secao=Usuario&usersecoes=47&userassunto=128







domingo, 15 de junho de 2014

4ª Postagem: A dualidade dos príons

   "Os príons representam, atualmente, um campo de estudo ainda indecifrado". Através dessa constatação, iniciaremos a postagem da semana. É fato que sabe-se muito pouco sobre a realidades dos príons, tanto que muitas das doenças causadas pelos mesmos ainda não possuem cura. No entanto, ao pensar nesse tópico, cometemos um erro comum: todos acreditam que a única função dos príons é transmitir doenças. Eis que chegamos em um impasse: porque continuamos a produzir príons, se são apenas maléficos ao nosso organismo?. "Você acredita que Deus criou os príons só para matar?" Esse foi o questionamento feito por Eric Kandel, Premio Nobel de Fisiologia/Medicina de 2000.
   De fato, Kandel não estava errado em sua afirmação. Na natureza, nada é gratuito e os príons não são exceção.
   O fato desconhecido pela população é a existência de duas formas dos príons: a não causadora de doenças, que convencionaremos como PrPc, e a forma patogênica, que chamaremos de PrPSc. Em nossos organismo, as duas formas são produzidas; no entanto, para produzirmos a forma infecciosa, é necessário que o corpo sofra uma mutação, caracterizando a transmissão hereditária de príons causadores de doenças. A outra forma(assunto abordado em nossa segunda postagem) seria através da ingestão de alimentos com o PrPSc, tal como as carnes acometidas pelo Mal da Vaca Louca.
   A diferença entre os dois tipos de príons encontra-se em sua estrutura secundária. Na realidade, os PrPc possuem cadeia alfa, em forma de hélice; enquanto os PrPSc possuem cadeia beta, na forma de uma fita esticada. Nos dois casos, temos uma estrutura mantida pelas pontes de hidrogênio entre as cadeias não-laterais, ou seja, entre os grupos -NH e -C=O. A diferença entre as duas está na distância dos segmentos da cadeia, pois, no caso da alfa, encontram-se ligações entre segmentos mais próximos que no caso da beta, fator que justifica sua conformação.
   Outro fator interessante é a capacidade de contágio do PrPSc, capaz de alterar a composição estrutural do príon não-contagiante. Dessa maneira, um contágio de uma doença torna-se mais eficaz, pois, ao haver o contágio, os príons saudáveis do organismo que fora infectado irão alterar-se e tornarão-se infectantes.

   Mas qual é o verdadeiro papel dos príons em nosso organismo?

   A função essencial dos PrPc é estabilizar as sinapses que formam memórias de longo prazo. Isso, pois sem essas sinapses, nunca poderíamos formar tais tipos de memórias, já que os processos celulares necessários para formar a memória são concluídos e, após cerca de dois meses, desaparecem. No entanto, ao realizarmos tais sinapses, podemos manter a formação de novas moléculas como substituta das antigas em uma reação em cadeia.
   Existem outras funções que os príons são responsáveis, tal como organizar e controlar a passagem de informações do meio externo para o interno. Isso, pois o príon atraí determinadas proteínas do meio extracelular e repassa suas informações para o meio intracelular. Concomitantemente, novas pesquisas demonstram que os PrPc têm papel importante no amadurecimento e na formação do prolongamento de neurônios, além de protegê-las da apoptose, ou morte celular programada(vale ressaltar que novos neurônios não são formados, caso haja a morte de um), além de modular a resposta do sistema imunológico às inflamações.
   A forma patogênica também pode ser utilizada em prol da saúde. Isso, pois foi comprovada a ação do PrpSc em modular a agressividade em células tumorais, podendo, até mesmo, ser uma nova forma de combate ao câncer.

Fonte:
http://agencia.fapesp.br/10516
http://www.bv.fapesp.br/7934
http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/prions_sao_cruciais_para_preservar_memorias_de_longo_prazo.html
http://aprendabiologiacomdjalminha.blogspot.com.br/2009/04/prions.html

quarta-feira, 4 de junho de 2014

3ª Postagem: O "sonho" do estudante de medicina

   Todo estudante de medicina, mesmo durante sua época de vestibulando, deseja uma capacidade que vai contra suas necessidades fisiológicas primárias: a capacidade de não dormir. Seria incrível conseguir passar 24 horas acordado, não seria? Em nossa terceira postagem sobre as moléculas proteicas que possuem propriedades infectantes, vamos tratar sobre uma doença rara e, no minimo, agonizante conhecida como Insonia Familiar Fatal.
   O primeiro caso confirmado de Insonia Familiar Fatal ocorreu em 1986. No entanto, a história dessa doença tem origem mais antiga. A pesquisa inciou-se com uma família, em 1973, em que duas irmãs e um irmão apresentavam distúrbios neurológicos sem haver um consenso entre os médicos sobre a verdadeira doença, mesmo que muitos falassem de Mal de Alzheimer. Os sintomas eram os mesmos, inciando com ansiedade e depressão, depois o sonambulismo e, após certo tempo, entrada em uma espécie de torpor e deficiência das funções vitais, tais como: transpirar continuamente e comer com voracidade. Logo após certo tempo, a primeira irmã faleceu e estudos de seu cérebro apresentaram apenas uma pequena lesão no tálamo.
    Por afetar uma geração de uma família, o médico da mesma reconstruiu a árvore genealógica e encontrou diversos casos de mortes por esgotamento que eram explicados como alcoolismo ou demência. Tais descobertas resultam na crença do primeiro caso ou paciente-zero da doença ter surgido no século XVIII de tal família. A descoberta acarretou na internação do irmão, que apresentou estado de vigília continuo em seu encefalograma, mesmo que interrompido por breves fases de sono REM. Após sua morte, o estudo do cérebro mostrou resultados idênticos aos da irmã. A questão era: como lesões no tálamo poderiam ocasionar estado de vigilância, sendo que não é essa uma função referente ao tálamo?
   Pela pesquisa ter demorado anos de estudo, descobriu-se que a lesão no tálamo não era o fator motivador da vigília, mas como essa estrutura serve de estação intermediária a diversas áreas do corpo, como o hipotálamo- responsável pela regulação do sono e da vigília em sua parte posterior ao reforçar a ação do sistema ativador reticular ascendente-, a lesão ocasionou no rompimento dessa ligação tálamo-hipotálamo.
    Os estudos dos cérebros infectados também demonstraram outro fator interessante: a semelhança das lesões com as encontradas em vítimas da doença de Creutzfeldt-Jakob, doença caracterizada pelo seu agente infeccioso serem os príons. Tais proteínas causavam destruição de células nervosas e surgimento de buracos no tecido nervoso, sendo comparado a uma esponja. Junto a isso, a inoculação de amostras do cérebros de infectados em camundongos geneticamente modificados e, por conseguinte, a evolução da doença finalizou a tese de que a IFF era causada por príons
    Por motivos desconhecidos, a doença costuma surgir apenas aos 50 anos de idade, havendo morte da vítima, no máximo, após 36 meses de IFF. A doença é considerada torturante, pois manter uma pessoa acordada durante semanas é um dos métodos de torturas que foi utilizado durante guerras.
    A doença é dividida em etapas, sendo a primeira iniciando com falta de sono, falta de atenção, irritação, paranoias, taquicardia. Nesta etapa, o doente ainda confunde a IFF com uma insônia normal, mas logo percebe que sua falta de sono não é algo passageiro. Na segunda fase, surgem as paranoias, ataques de pânico, alucinações, confusão mental. Já a terceira fase tem a rápida perda de peso como fator característico. A quarta e última fase apresenta demência, coma, perca da capacidade de responder estímulos externos e, por fim, a morte. Um detalhe importante é o fato de que remédios para dormir apenas agravam a situação do paciente, causando uma aceleração e agravamento dos sintomas.
   A boa notícia relacionada à IFF é sua forma de contágio ser apenas pela hereditariedade e apenas 30 famílias têm o gene conhecido como causador da doença. Alia-se a isso o fato de que as chances de transmissão do gene entre gerações é de 50 por cento, ou seja, não é obrigatória a transmissão.
   A notícia ruim é que não existe um tratamento conhecido para a doença. Portanto, os conhecidos como infectados podem apenas esperar a morte. Devemos lembrar que pesquisas sobre estados de sono e de vigilância não estão completos e que as pesquisas sobre príons são mínimas. No entanto, a qualidade de vida da vítimas pode ser melhorada em seus últimos dias de vida através de um tratamento de controle dos sintomas secundários.

Mas como a bioquímica atua durante o processo de vigília e sono?
   Como já foi dito, o campo de estudo do processo vigília-sono ainda não foi totalmente decifrado e possui diversos estudos. Um deles fala da importância do ácido gama-amino-butírico(GABA), o neurotransmissor mais abundante no SNC. Este tem sua atuação no hipotálamo, além do locus ceruleus e na porção anterior do cérebro. Portanto, ao não conseguir chegar em áreas de atuação, não poderá realizar sua função.
   Em relação ao hipotálamo, sabe-se existem três sub-divisões dele que comandam esse processo. Neles, encontraremos o sistema gabaérgico inibitório do núcleo pré-óptico do ventre lateral, responsável pela mantuenção do sono NREM. Encontraremos também os neurônios supraquiasmáticos que controlam o ritmo cardíaco durante o sono e os núcleos do prosencéfalo basal que ativam o processo de vigília.
  Abaixo, a imagem à esquerda explica a ligação entre o tálamo e as regiões do sistema nervoso responsáveis pelo proceso sono-vigília e a imagem à direita demonstra um dos ciclos de interação do sono



Por fim, temos um documentário que resume a IFF

Leitura recomendada: http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-6/questoes-medicas/dormir-nunca-mais

FONTE:
http://www.infoescola.com/doencas/insonia-familiar-fatal/
http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/a_epidemia_da_insonia.html
http://www.brasilescola.com/doencas/insonia-familiar-fatal.htm
http://www.psiquiatriageral.com.br/sono/insonia.htm
http://www.scielo.br/pdf/rbp/v27s1/24474.pdf


domingo, 25 de maio de 2014

2ª Postagem: A contradição da natureza

   Não seria exagero afirmar que os príons são uma contradição na natureza. São seres capazes de transmitir infecções, mas não classificam-se em nenhum do 5 reinos conhecidos. Não possuem DNA ou RNA em sua composição química para transmitir seu padrão-genético para as ''células-filhas'', no entanto possuem a capacidade de reprodução, realizando cópias de si mesmo. Conseguem transmitir patologias através de infecções e por hereditariedade, fenômeno este não existente em nenhum outro caso de doenças, mas não são considerados nem ao menos seres vivos. De fato, apenas os príons encaixam-se na descrição feita.

    Antes de tudo, é necessária uma breve explicação sobre o que realmente são proteínas e, 
 mais especificamente, essas conhecidas como príons ou PrP:
As proteínas representam o componente celular mais abundante, devido as suas variadas formas e funções. Entre elas, podemos citar:
  1. Proteínas transportadoras, tais como as existentes no plasma sanguíneo
  2. Enzimas, presentes na maioria dos processos biológicos
  3. Proteínas nutrientes e de armazenamento, como as existentes em sementes para que possa haver aminoácidos suficientes para o processo de brotação
  4. Proteínas contráteis ou de motilidade, possibilitando a contração, a mudança de forma e a movimentação
  5. Proteínas estruturais, assim como o colágeno
  6. Proteínas de defesa, como a imunoglobulina
  7. Proteínas reguladoras, tal como as que se ligam ao DNA

   Mesmo tendo uma enorme variedade de funções e serem conhecidas como ''a base da vida'', toda proteína é formada de aminoácidos, estes que somam no total 20 tipos de aminoácidos diferentes

                                     
    O mais impressionante é que apenas esse 20 aminoácidos são a origem de uma inúmera quantidade de proteínas diferentes. Isso se deve a 3 fatores: o tipo de aminoácido que compõe a proteína, sua posição e sua quantidade. Uma alteração em qualquer um desses resultará em um proteína diferente.
   As proteínas também possuem classificação em estrutura. No caso, a estrutura primária caracteriza a que já foi citada, ou seja, a sequencia de aminoácidos da molécula. A próxima estrutura, ou estrutura secundária, surge da estabilização das pontes de hidrogênio entre os grupo C=O e N-H das ligações peptídicas intra e inter-cadeias e é dividida em 2 tipos: alfa-hélice e folha beta-pregueada. No caso dos príons, a forma não-infecciosa possui, em usa maioria a primeira forma, enquanto os príons infecciosos são caracterizados pela segunda forma.
   Os príons são proteínas encontradas na superfície de quase todas as células, sendo produzidos pelo nosso próprio organismo- em maior abundância no sistema nervoso central e no imunológico. Sua função é organizar e controlar a entrada de informações do meio externo para o meio interno. No entanto, no processo de endocitose de uma célula(absorção de nutrientes através da membrana celular), existe a possibilidade de um pedaço do aglomerado se desprender, dando origem aos príons no meio extracelular. Como essas proteínas são de origem da membrana celular, sua entrada em células é facilitada. Portanto, se um príons estiver infectado, seu poder de contaminação é impressionante.
     No entanto, o príons não atuam sozinhos, eles necessitam de uma outra proteína que serve de acionamento aos príons para realizar suas funções. É nesse ponto que encontramos um problema, já que esse acionador funciona somente com príons na forma de alfa-hélice
  Em nossa próxima postagem, aproveitaremos essa como base para falarmos dos benefícios que os príons trazem ao nosso organismo, principalmente para o sistema nervoso, além dos malefícios de um príons infectado e como ocorre essa relação entre o príon e a proteína acionadora.

Fonte:
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/medicina-e-saude/prions-desvendados/?searchterm=Pr%C3%ADons%20desvendados
http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/08/16/o-porteiro-das-c%C3%A9lulas/
http://aprendabiologiacomdjalminha.blogspot.com.br/2009/04/prions.html
http://www.uff.br/gcm/GCM/atividades/lidia/prions.pdf



quinta-feira, 15 de maio de 2014

1ª Postagem: Uma historia sobre Prions


     Em nossa primeira postagem oficial do blog sobre Príons, vamos descobrir um pouco mais sobre o descobrimento dessas Proteinaceous Infectious Only Particle (Partícula Infecciosa Puramente Proteica) e adentrar mais na área de estudo dos príons, bem como curiosidades.
    Os primeiros vestígios da existência de príons datam de 1954 a partir do surgimento do termo virose lenta para descrever enfermidades existentes no gado ovino na Islândia. Curiosamente, essas doenças misteriosas são datadas desde 1730, quando foram percebidos os primeiros casos.                    Tal enfermidade, que logo ficou conhecida como scrapie ( a qual vai ser tratada futuramente), era considerada uma situação de óbito garantido.
        Durante meados de 1957 e 1959, época em que se descreveu a doença kuru, um patologista publicou no jornal ''The Lancet'' uma carta intitulada ''Scrapie and Kuru'' na qual dizia: ''...it might be profitable, in view of veterinary experience with scrapie, to examine the possibility of the experimental induction of kuru in a laboratory primate, for one might surmise that the pathogenetic mechanisms involved in scrapie
— however unusual they may be — are unlikely to be unique in the province of
animal pathology''. Esse acontecimento resultou em estudos incessantes sobre a doença kuru, fato que levou a descoberta da estreita relação entre as doenças scrapie, kuru e doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) no que diz respeito ao agente infeccioso.
    Curiosamente, na tentativa de buscar o agente infeccioso, expôs-se cérebros de camundongos a exposição ultravioleta e, mesmo apos o experimento, o potencial infectante não alterou. Tal descoberta foi impactante, pois esse tipo de radiação causa excitação nas moléculas do polímero de DNA através da adição de energia. Essa adição causa a anomalia da formação de ligações entre duas bases nitrogenadas de tiamina, enquanto que em uma molécula de DNA normal a tiamina deve se emparelhar com uma base nitrogenada adenina, assim como é perceptível na figura a seguir:

http://pequenosbiologos.files.wordpress.com/2010/09/dna.jpg
Timina(2,4-diosso-5-metilpirimidina):                                                       Adenina(6-amino-9H-purina):
Uma Timina e uma Adenina ligam-se através de duas pontes de hidrogênio

      No caso da anomalia, o DNA emprega reações químicas para se curar, mas em casos de danos em grande quantidade, ele tende a não se replicar novamente e simplesmente morrem. No entanto, como isso não ocorreu e o agente infectante também apresentou resistência ao calor, ao formaldeído (agente esterilizante) e às nucleases (enzimas capazes de quebrar nucleotídeos), percebeu-se que o agente nao era nenhum dos considerados convencionais.
      Já no inicio da década de 80, o cientista Stanley B. Prusiner foi o responsável por detectar a presença de uma proteína hidrofóbica no agente infeccioso, o qual ele denominou de Príon. Dois anos apos a descoberta, sua equipe conseguiu desvendar a sequencia de aminoácidos que compõe o príon, chamada de PrP, garantindo um Nobel de Fisiologia e Medicina
     Com essa descoberta que revolucionou os campos da biologia e da medicina, encontrou-se formas infecciosas e não-infecciosas dos príons, assunto que sera abordado na próxima postagem.

Obs: O DNA é formado por uma fita dupla de nucleotídeos que são constituídos através de uma pentose (monossacarídeo), associado a um ou mais fosfatos e a uma base hidrogenada. Essas fitas possuem extremidades denominadas 3' que possui um hidroxil e 5' que possui um fosfato. 

Fonte:
http://www.scielo.br/pdf/anp/v71n9B/0004-282X-anp-71-09b-731.pdf
http://www.scielo.br/pdf/anp/v49n2/01.pdf
http://aprendabiologiacomdjalminha.blogspot.com.br/2009/04/prions.html
http://pequenosbiologos.wordpress.com/2010/09/15/o-que-e-dna-%E2%80%8E/

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Através desse blog, vamos fazer uma análise sobre príons, desde o seu conceito inicial até as doenças causadas pelas mesmas, associando esse tema com a bioquímica. Dessa forma, pretende-se explicar o assunto de uma forma mais simples e abrangente, retirando possíveis dúvidas que venham existem ou venham a surgir sobre o tema em vigor.