quarta-feira, 4 de junho de 2014

3ª Postagem: O "sonho" do estudante de medicina

   Todo estudante de medicina, mesmo durante sua época de vestibulando, deseja uma capacidade que vai contra suas necessidades fisiológicas primárias: a capacidade de não dormir. Seria incrível conseguir passar 24 horas acordado, não seria? Em nossa terceira postagem sobre as moléculas proteicas que possuem propriedades infectantes, vamos tratar sobre uma doença rara e, no minimo, agonizante conhecida como Insonia Familiar Fatal.
   O primeiro caso confirmado de Insonia Familiar Fatal ocorreu em 1986. No entanto, a história dessa doença tem origem mais antiga. A pesquisa inciou-se com uma família, em 1973, em que duas irmãs e um irmão apresentavam distúrbios neurológicos sem haver um consenso entre os médicos sobre a verdadeira doença, mesmo que muitos falassem de Mal de Alzheimer. Os sintomas eram os mesmos, inciando com ansiedade e depressão, depois o sonambulismo e, após certo tempo, entrada em uma espécie de torpor e deficiência das funções vitais, tais como: transpirar continuamente e comer com voracidade. Logo após certo tempo, a primeira irmã faleceu e estudos de seu cérebro apresentaram apenas uma pequena lesão no tálamo.
    Por afetar uma geração de uma família, o médico da mesma reconstruiu a árvore genealógica e encontrou diversos casos de mortes por esgotamento que eram explicados como alcoolismo ou demência. Tais descobertas resultam na crença do primeiro caso ou paciente-zero da doença ter surgido no século XVIII de tal família. A descoberta acarretou na internação do irmão, que apresentou estado de vigília continuo em seu encefalograma, mesmo que interrompido por breves fases de sono REM. Após sua morte, o estudo do cérebro mostrou resultados idênticos aos da irmã. A questão era: como lesões no tálamo poderiam ocasionar estado de vigilância, sendo que não é essa uma função referente ao tálamo?
   Pela pesquisa ter demorado anos de estudo, descobriu-se que a lesão no tálamo não era o fator motivador da vigília, mas como essa estrutura serve de estação intermediária a diversas áreas do corpo, como o hipotálamo- responsável pela regulação do sono e da vigília em sua parte posterior ao reforçar a ação do sistema ativador reticular ascendente-, a lesão ocasionou no rompimento dessa ligação tálamo-hipotálamo.
    Os estudos dos cérebros infectados também demonstraram outro fator interessante: a semelhança das lesões com as encontradas em vítimas da doença de Creutzfeldt-Jakob, doença caracterizada pelo seu agente infeccioso serem os príons. Tais proteínas causavam destruição de células nervosas e surgimento de buracos no tecido nervoso, sendo comparado a uma esponja. Junto a isso, a inoculação de amostras do cérebros de infectados em camundongos geneticamente modificados e, por conseguinte, a evolução da doença finalizou a tese de que a IFF era causada por príons
    Por motivos desconhecidos, a doença costuma surgir apenas aos 50 anos de idade, havendo morte da vítima, no máximo, após 36 meses de IFF. A doença é considerada torturante, pois manter uma pessoa acordada durante semanas é um dos métodos de torturas que foi utilizado durante guerras.
    A doença é dividida em etapas, sendo a primeira iniciando com falta de sono, falta de atenção, irritação, paranoias, taquicardia. Nesta etapa, o doente ainda confunde a IFF com uma insônia normal, mas logo percebe que sua falta de sono não é algo passageiro. Na segunda fase, surgem as paranoias, ataques de pânico, alucinações, confusão mental. Já a terceira fase tem a rápida perda de peso como fator característico. A quarta e última fase apresenta demência, coma, perca da capacidade de responder estímulos externos e, por fim, a morte. Um detalhe importante é o fato de que remédios para dormir apenas agravam a situação do paciente, causando uma aceleração e agravamento dos sintomas.
   A boa notícia relacionada à IFF é sua forma de contágio ser apenas pela hereditariedade e apenas 30 famílias têm o gene conhecido como causador da doença. Alia-se a isso o fato de que as chances de transmissão do gene entre gerações é de 50 por cento, ou seja, não é obrigatória a transmissão.
   A notícia ruim é que não existe um tratamento conhecido para a doença. Portanto, os conhecidos como infectados podem apenas esperar a morte. Devemos lembrar que pesquisas sobre estados de sono e de vigilância não estão completos e que as pesquisas sobre príons são mínimas. No entanto, a qualidade de vida da vítimas pode ser melhorada em seus últimos dias de vida através de um tratamento de controle dos sintomas secundários.

Mas como a bioquímica atua durante o processo de vigília e sono?
   Como já foi dito, o campo de estudo do processo vigília-sono ainda não foi totalmente decifrado e possui diversos estudos. Um deles fala da importância do ácido gama-amino-butírico(GABA), o neurotransmissor mais abundante no SNC. Este tem sua atuação no hipotálamo, além do locus ceruleus e na porção anterior do cérebro. Portanto, ao não conseguir chegar em áreas de atuação, não poderá realizar sua função.
   Em relação ao hipotálamo, sabe-se existem três sub-divisões dele que comandam esse processo. Neles, encontraremos o sistema gabaérgico inibitório do núcleo pré-óptico do ventre lateral, responsável pela mantuenção do sono NREM. Encontraremos também os neurônios supraquiasmáticos que controlam o ritmo cardíaco durante o sono e os núcleos do prosencéfalo basal que ativam o processo de vigília.
  Abaixo, a imagem à esquerda explica a ligação entre o tálamo e as regiões do sistema nervoso responsáveis pelo proceso sono-vigília e a imagem à direita demonstra um dos ciclos de interação do sono



Por fim, temos um documentário que resume a IFF

Leitura recomendada: http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-6/questoes-medicas/dormir-nunca-mais

FONTE:
http://www.infoescola.com/doencas/insonia-familiar-fatal/
http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/a_epidemia_da_insonia.html
http://www.brasilescola.com/doencas/insonia-familiar-fatal.htm
http://www.psiquiatriageral.com.br/sono/insonia.htm
http://www.scielo.br/pdf/rbp/v27s1/24474.pdf


6 comentários:

  1. Abordagem muito interessante, inclusive por meio do documentário. Como já havia dito na postagem anterior, os príons ainda são desconhecidos por uma parcela da população que, muitas vezes, entende que doenças são aquelas causadas por vírus e bactérias. A Insônia Familiar Fatal, por exemplo, é uma doença tão grave e causada por príons, precisando, portanto, ser mais exposta e ter suas características apresentadas, como foi feito na postagem.

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  2. Sem sombra de dúvidas dormir é essencial para mantermos a nossa capacidade cognitiva. Falar da IFF e lembrar das pessoas que muito estudam é lembrar, também, do que vários estudantes estão dispostos a fazer para passar um tempinho a mais sobre os livros. Medicamentos, como o rebite, são usados frequentemente. Esses remédios, chamados de anfetaminas, atuam desregulando os neurotransmissores dopamina e serotonina. O problema é que passar muito tempo sem dormir pode ocasionar problemas. A pessoa apresenta um quadro de insônia, perda de apetite, fala rápida, sente-se revigorado, fazendo com que o organismo trabalhe de forma excessiva e ácida de suas condições reais. Fica então a pergunta: vale o risco?

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  3. A doença apresentada é extremamente rara e grave, haja vista que o sono é essencial para a revitalização do corpo humano e de nossa mente. É válido destacar que há pesquisas que tentam relacionar a lesão no tálamo característica da doença com a lesão do epitálamo (além do hipotálamo) localizado dorsalmente ao tálamo. No epitálamo há a glândula pineal, que secreta o hormônio melatonina que está também relacionada com a vigília, contudo depende dos ciclos de claro e escuro. A IFF deve ser objeto de pesquisa e ampliação de informações com o intuito de melhorar as condições de quem sofre ou poderá sofrer com a doença.

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  4. Incrível pensar como os príons agem no organismo de forma danosa sendo que são apenas partículas proteicas que "não deram certo" e não possuem sequer DNA. No caso da Insônia Familiar fatal a parte do corpo mais prejudicada é o hipotálamo, localizado no Sistema Nervoso Central e responsável pela regulação visceral do corpo e de atividades vitais, como a regulação do sono e vigília. Uma dica para o próximo post é mostrar melhor o mecanismo de ação dos príons na doença de Creutzfeldt-Jakob, onde há interferência nas conformações espaciais das proteínas, bem como o mecanismo de defesa das proteínas chaperonas.

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  5. Se sabe, através da neuroanatomia, que o tálamo é o centro de diversas vias neuronais que podem se influenciar antes de seguirem seu caminho. Assim, na paciente acima percebe-se uma lesão no tálamo, portanto, várias funções serão afetadas, dessa maneira, a insônia se apresenta como um dos principais sintomas. É importante frisar que os prions, são móleculas bastante simples, mas que podem acarretar doenças de nível bastante grave, sendo assim, a importância de investimentos em pesquisa nessa área, mesmo o número de vítimas serem menores que de outras patologias, é necessário pesquisas que encontrem a cura. Como destacado no blog, a doença é desumana, tirando o básico de um homem, que é um sono normal. Estudos mostram, que durante o sono o indivíduo produz substâncias indispensáveis ao sistema imunológico, então os pacientes com IFF, além do problema da própria doença, poderá está suscetível a doenças oportunistas, como pneumonia.

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  6. No artigo de 18 de fevereiro, Si e seus colegas desvendaram a “dança de múltiplos parceiros” que controla o papel da Orb2A. Primeiro, uma proteína chamada TOB se liga à Orb2A, permitindo que ela persista intacta na célula. (Normalmente ela seria desintegrada em algumas horas.) Uma vez estabilizada, ela precisa de um marcador de fosfato ligado a ela; o que é feito por outra proteína chamada Lim quinase (LIMK, na sigla em inglês).

    Fundamentalmente, a Lim quinase só é ativada quando a célula recebe um impulso elétrico, exclusivamente voltado para a sinapse, e não para quaisquer outras conexões sinápticas que a célula possa estar fazendo. Isso significa que a reação em cadeia de príons é acionada no momento e lugar específicos em que ela é necessária.

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