De fato, Kandel não estava errado em sua afirmação. Na natureza, nada é gratuito e os príons não são exceção.
O fato desconhecido pela população é a existência de duas formas dos príons: a não causadora de doenças, que convencionaremos como PrPc, e a forma patogênica, que chamaremos de PrPSc. Em nossos organismo, as duas formas são produzidas; no entanto, para produzirmos a forma infecciosa, é necessário que o corpo sofra uma mutação, caracterizando a transmissão hereditária de príons causadores de doenças. A outra forma(assunto abordado em nossa segunda postagem) seria através da ingestão de alimentos com o PrPSc, tal como as carnes acometidas pelo Mal da Vaca Louca.
A diferença entre os dois tipos de príons encontra-se em sua estrutura secundária. Na realidade, os PrPc possuem cadeia alfa, em forma de hélice; enquanto os PrPSc possuem cadeia beta, na forma de uma fita esticada. Nos dois casos, temos uma estrutura mantida pelas pontes de hidrogênio entre as cadeias não-laterais, ou seja, entre os grupos -NH e -C=O. A diferença entre as duas está na distância dos segmentos da cadeia, pois, no caso da alfa, encontram-se ligações entre segmentos mais próximos que no caso da beta, fator que justifica sua conformação.
Outro fator interessante é a capacidade de contágio do PrPSc, capaz de alterar a composição estrutural do príon não-contagiante. Dessa maneira, um contágio de uma doença torna-se mais eficaz, pois, ao haver o contágio, os príons saudáveis do organismo que fora infectado irão alterar-se e tornarão-se infectantes.
Mas qual é o verdadeiro papel dos príons em nosso organismo?
A função essencial dos PrPc é estabilizar as sinapses que formam memórias de longo prazo. Isso, pois sem essas sinapses, nunca poderíamos formar tais tipos de memórias, já que os processos celulares necessários para formar a memória são concluídos e, após cerca de dois meses, desaparecem. No entanto, ao realizarmos tais sinapses, podemos manter a formação de novas moléculas como substituta das antigas em uma reação em cadeia.
Existem outras funções que os príons são responsáveis, tal como organizar e controlar a passagem de informações do meio externo para o interno. Isso, pois o príon atraí determinadas proteínas do meio extracelular e repassa suas informações para o meio intracelular. Concomitantemente, novas pesquisas demonstram que os PrPc têm papel importante no amadurecimento e na formação do prolongamento de neurônios, além de protegê-las da apoptose, ou morte celular programada(vale ressaltar que novos neurônios não são formados, caso haja a morte de um), além de modular a resposta do sistema imunológico às inflamações.
A forma patogênica também pode ser utilizada em prol da saúde. Isso, pois foi comprovada a ação do PrpSc em modular a agressividade em células tumorais, podendo, até mesmo, ser uma nova forma de combate ao câncer.
Fonte:
http://agencia.fapesp.br/10516
http://www.bv.fapesp.br/7934
http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/prions_sao_cruciais_para_preservar_memorias_de_longo_prazo.html
http://aprendabiologiacomdjalminha.blogspot.com.br/2009/04/prions.html
Os príons embora tenham uma parte de seu mecanismo desconhecido, sabe-se que eles agem alterando a forma tridimensional das proteínas do organismo. Dessa foma, eles alteram a composição de alfa-hélices e beta-pregueadas, de forma que a função da proteína é alterada em virtude da mudança nas interações eletrostáticas. Entretanto, os "heróis" desse processo são as chamadas glutationas, que fazem a verificação da forma das proteínas e protegem o organismo contra o efeito deletério dos príons. Foi bom saber, através da postagem, que os príons possuem formas não patogênicas que possuem importantes funções. Assim, os esforços devem se concentrar não em eliminar os príons, mas sim em anular os seus efeitos deletérios e preservar seus efeitos benéficos.
ResponderExcluirHá uma dualidade muito grande na mesma molécula, visto que existe a forma infecciosa e a não infecciosa e por incrível que pareça a forma infecciosa ainda pode ser usada a favor da saúde. Nos últimos anos, novos estudos têm mostrado que várias doenças neurodegenerativas muito mais comuns – como Alzheimer e Parkinson – podem ser causadas por mecanismos semelhantes à ação do príon, ampliando radicalmente os horizontes para as pesquisas na área.
ResponderExcluirQuanto aos campos de estudos, recomendo uma pesquisa sobre a conexão da atividade celular semelhante à do príon com as doenças neurodegenerativas, uma vez que esta é o foco mundial de pesquisas na área.
É importante acrescentar que os príons são proteínas produzidas pelos neurônios, que são secretados por estes para o meio extracelular, existe enzima (protease) que participa desse mecanismo, como se sabe enzimas são bastante específicas, então quando o príon muda de conformação de alfa-hélice para beta-folha a enzima não consegue catalisar esse reação de forma adequada, assim o príon fica se acumulando no interior intracelular e passa a causar prejuízos. Outro ponto importante a frisar é o grande risco de contaminação clínica, pois esses partículas são resistentes a esterilização, já foi até constatado a contaminação através de hormônios retirados de cadáveres. Mas, como dito no blog, os príons patogênicos podem ser importantes no tratamento do câncer, contudo, um problema é como controlar esse príon apenas no local do tumor, evitando que ele chegue a células normais e se espalhe em todo o tecido nervoso e cause doença, assim o paciente passaria a ter duas doenças graves. Tão logo, é necessário o aumento em investimentos em pesquisas para que se possa entender os príons cada vez mais.
ResponderExcluirAbordagem interessante sobre a "utilidade" dos príons, visto que, muitas vezes, só são evidenciados seus pontos negativos, isto é, o aparecimento de doenças graves. Atualmente, os príons abrem um novo capítulo da biologia molecular e já ajudam a compreender doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. Espero, nas próximas postagens, encontrar informações sobre as doenças Kuru e Síndrome de Alpers, também causadas por príons.
ResponderExcluirExiste um gene, denominado prinp, que é responsável pela síntese da proteína príon celular (PrPc). Na sua forma normal e saudável, essa proteína, além de participar do processo de diferenciação neural, ela defende os neurônios de condições que podem levar à sua destruição. Uma mutação do gene prinp provoca a formação defeituosa da PrPc, que se transforma em príon. Essa molécula proteica infectante é capaz, ainda, de alterar a forma de outras proteínas saudáveis, que, a partir daí, também adquirem um comportamento priônico. Os príons podem até mesmo produzir réplicas de si mesmos (por mecanismos ainda desconhecidos).
ResponderExcluirEsses príons naturais não são infecciosos, mas em um nível molecular eles constroem correntes exatamente iguais à de seus irmãos causadores de doenças. A ação dos príons é rigidamente controlada pela célula, e pode ser ativada quando é preciso formar uma nova memória de longo prazo. Príons são proteínas com duas propriedades incomuns. Primeiro, elas podem alternar entre duas formas possíveis: uma que é estável por si só e outra com uma conformação alternativa capaz de formar cadeias. Segundo, a versão que forma cadeias tem de ser capaz de levar outras a mudar de forma e aderir à cadeia. Digamos que, na versão normal, a proteína esteja dobrada, de modo que uma porção da estrutura protéica — chame-a “aba A” — se encaixe em seu próprio “compartimento B”. Na forma alternativa, porém, a aba A está disponível para encaixar no compartimento B de seu vizinho. Isso significa que o vizinho pode fazer a mesma coisa com a próxima proteína levando-a a acompanhá-lo para formar uma cadeia ou um “aglomerado” que pode crescer indefinidamente. Os aglomerados produzidos em doenças de príons são tóxicos para a célula, mas algumas outras cadeias de proteínas desempenham um papel importante em neurônios saudáveis.
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