domingo, 25 de maio de 2014

2ª Postagem: A contradição da natureza

   Não seria exagero afirmar que os príons são uma contradição na natureza. São seres capazes de transmitir infecções, mas não classificam-se em nenhum do 5 reinos conhecidos. Não possuem DNA ou RNA em sua composição química para transmitir seu padrão-genético para as ''células-filhas'', no entanto possuem a capacidade de reprodução, realizando cópias de si mesmo. Conseguem transmitir patologias através de infecções e por hereditariedade, fenômeno este não existente em nenhum outro caso de doenças, mas não são considerados nem ao menos seres vivos. De fato, apenas os príons encaixam-se na descrição feita.

    Antes de tudo, é necessária uma breve explicação sobre o que realmente são proteínas e, 
 mais especificamente, essas conhecidas como príons ou PrP:
As proteínas representam o componente celular mais abundante, devido as suas variadas formas e funções. Entre elas, podemos citar:
  1. Proteínas transportadoras, tais como as existentes no plasma sanguíneo
  2. Enzimas, presentes na maioria dos processos biológicos
  3. Proteínas nutrientes e de armazenamento, como as existentes em sementes para que possa haver aminoácidos suficientes para o processo de brotação
  4. Proteínas contráteis ou de motilidade, possibilitando a contração, a mudança de forma e a movimentação
  5. Proteínas estruturais, assim como o colágeno
  6. Proteínas de defesa, como a imunoglobulina
  7. Proteínas reguladoras, tal como as que se ligam ao DNA

   Mesmo tendo uma enorme variedade de funções e serem conhecidas como ''a base da vida'', toda proteína é formada de aminoácidos, estes que somam no total 20 tipos de aminoácidos diferentes

                                     
    O mais impressionante é que apenas esse 20 aminoácidos são a origem de uma inúmera quantidade de proteínas diferentes. Isso se deve a 3 fatores: o tipo de aminoácido que compõe a proteína, sua posição e sua quantidade. Uma alteração em qualquer um desses resultará em um proteína diferente.
   As proteínas também possuem classificação em estrutura. No caso, a estrutura primária caracteriza a que já foi citada, ou seja, a sequencia de aminoácidos da molécula. A próxima estrutura, ou estrutura secundária, surge da estabilização das pontes de hidrogênio entre os grupo C=O e N-H das ligações peptídicas intra e inter-cadeias e é dividida em 2 tipos: alfa-hélice e folha beta-pregueada. No caso dos príons, a forma não-infecciosa possui, em usa maioria a primeira forma, enquanto os príons infecciosos são caracterizados pela segunda forma.
   Os príons são proteínas encontradas na superfície de quase todas as células, sendo produzidos pelo nosso próprio organismo- em maior abundância no sistema nervoso central e no imunológico. Sua função é organizar e controlar a entrada de informações do meio externo para o meio interno. No entanto, no processo de endocitose de uma célula(absorção de nutrientes através da membrana celular), existe a possibilidade de um pedaço do aglomerado se desprender, dando origem aos príons no meio extracelular. Como essas proteínas são de origem da membrana celular, sua entrada em células é facilitada. Portanto, se um príons estiver infectado, seu poder de contaminação é impressionante.
     No entanto, o príons não atuam sozinhos, eles necessitam de uma outra proteína que serve de acionamento aos príons para realizar suas funções. É nesse ponto que encontramos um problema, já que esse acionador funciona somente com príons na forma de alfa-hélice
  Em nossa próxima postagem, aproveitaremos essa como base para falarmos dos benefícios que os príons trazem ao nosso organismo, principalmente para o sistema nervoso, além dos malefícios de um príons infectado e como ocorre essa relação entre o príon e a proteína acionadora.

Fonte:
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/medicina-e-saude/prions-desvendados/?searchterm=Pr%C3%ADons%20desvendados
http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/08/16/o-porteiro-das-c%C3%A9lulas/
http://aprendabiologiacomdjalminha.blogspot.com.br/2009/04/prions.html
http://www.uff.br/gcm/GCM/atividades/lidia/prions.pdf



8 comentários:

  1. É interessante como os príons quebraram alguns paradigmas da vida, como o de que, para se reproduzir, um ser precisa de ácido nucleico. Os príons são tão simples(apenas uma proteína infecciosa), mas podem acometer o organismo com várias patologias, como a encefalopatia espongiforme bovina("doença da vaca louca"). A ciência está constantemente revendo seus conceitos e derrubando paradigmas e é isso que a faz avançar.

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  2. Os prions ocorrem normalmente no nosso corpo, o problema é quando surgue uma forma infecciosa do mesmo e contamina os saudáveis. E o mais impressionante, o que diferencia um prion saudavel de um infeccioso é o tipo de estrutura primária predominante, o primeiro possui mais alfa hélice, enquanto o segundo mais beta folha. Esse fato mostra como algo microscópico e apenas algumas mudanças estruturais nas proteínas( por exemplo a anemia facilforme, onde ocorre a mudança de um aminoácido) podem causar doenças degenerativas graves, como a Doença da Vaca Louca.

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  3. Tenho uma ressalva a fazer em relação à sua postagem. Como afirmar que os príons se encaixam no conceito de seres vivos? Os vírus realmente causam grande divergência entre os cientistas por só apresentarem características de seres vivos - metabolismo, organização celular, reprodução, presença de material genético e evolução - quando parasitando outra célula. Entretanto, essa questão é muito pouco levantada quando se trata de príons, já que, mesmo quando infecta um organismo, a única característica de ser vivo que apresenta é gerar semelhantes a si - não por comandar processos metabólicos que levam a isso, mas por provocar em outras proteínas os mesmos "erros estruturais" que o tornaram infeccioso. A meu ver, os príons são realmente um tema que desperta curiosidade por sua capacidade infecciosa, mas de forma alguma eles se caracterizam como uma "contradição da natureza".

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  4. Concordo com o Samuel Melo quanto à duvida levantada por ele! Essa contradição da natureza parece, ainda, pouco abordada, certamente grande parte da população nem sabe o que são príons, não conhecem suas especificidades ou o que eles causam, como por exemplo a Doença da Vaca Louca. Gostaria de aproveitar também para sugerir que em próximas postagens sejam abordadas patologias como Kuru, Insônia Familiar Fatal e Síndrome de Alpers - todas causadas por príons e, como já foi dito, desconhecidas por uma parcela da população.

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  5. Creio que muito mais importante em classificar os príons como seres vivos ou não-vivos é dar destaque a suas importâncias biológicas. Essas proteínas são incrivelmente fascinantes no seu metabolismo. Por um simples contato, eles transformam proteínas "saudáveis" e normais em outros príons com o mesmo caráter de propriedades. As diversas doenças causadas por eles ainda possuem muitos mistérios a serem desvendados e necessitam de grande pesquisa em virtude de suas gravidades.

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  6. Boa observação Samuel Melo. Não seria coerente chamar o príon de contradição da natureza por serem proteínas que geram semelhantes (reproduzem, como alguns diriam), se sua capacidade infecciosa não provém de um metabolismo, mas sim da sua capacidade de gerar as mudanças estruturais que o causam infecciosos em outras proteínas. Nas próximas postagens seria interessante analisar também como um príon provoca mudanças estruturais em outra proteínas.

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  7. Como contradição à natureza os príons ainda despertam grandes dúvidas em cientistas,estes que ainda não tem classificação definida.Também vale ressaltar sua importância no mundo médico pois doenças causadas ainda não tem cura e são poucos os estudos voltados a eles dentro do mundo médico,mesmo dentro da área neurológica.

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  8. Príons, a família de proteínas notória por causar doenças neurodegenerativas como a da “vaca louca” e Parkinson, podem desempenhar um papel importante em células saudáveis. “Você acredita que Deus criou os príons só para matar?” ponderou o Prêmio Nobel de Fisiologia/Medicina de 2000 Eric Kandel. “Essas coisas devem ter evoluído inicialmente para ter uma função fisiológica”.

    Seu trabalho sobre a memória ajudou a revelar que animais produzem e usam príons em seus sistemas nervosos como parte de uma função essencial: estabilizar as sinapses que formam memórias de longo prazo.

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